“Como posso dizer que Tony morreria indubitável e rapidamente se eu não tivesse reduzido a quantidade de adrenalina utilizada para manter a sua pressão arterial? Não existem remissões espontâneas de cancro? E curas milagrosas? Não há doenças que desaparecem de modo súbito e misterioso?
Sim, de facto, esses fenómenos existem. Mas tendem a ocorrer relativamente cedo no curso da enfermidade. Nunca ouvi falar da cura de uma doença que tivesse progredido até ao ponto do cancro de Tony.
Ainda assim, aprendi a desconfiar da capacidade humana de prever quase tudo com toda a certeza. Acredito que existe sempre um elemento de dúvida. Foi por isso que, quando naquela manhã há trinta anos atrás rodei cuidadosamente o grampo do tubo intravenoso de Tony, o fiz cheio de receio e de dúvidas. Desejei desesperadamente ter podido partilhar esta decisão. Acho que uma opção destas não deve ser feita por um único médico, excepto se não houver outra escolha.
Apraz-me constatar que o clima propício a decisões deste tipo tem melhorado bastante nos últimos trinta anos. É agora uma questão de rotina pôr em causa o recurso a medidas heróicas em situações como a de Tony e envolver a família nessa decisão. Em 1965, isto era impensável. Nessa altura, o procedimento a seguir era usar a tecnologia de saúde até aos seus limites, combater a morte até ao fim e nunca considerar sequer a possibilidade de a família ter uma voz activa nesse processo. Hoje em dia, faz parte da rotina discutir estas questões com a maior parte das famílias. “