Feiticeira Cotovia lhe chamei, utilizando uma expressão com que baptizou uma das suas personagens. Cotovia, porque era livre como esse pássaro. Feiticeira, pelo seu dom de adivinhar e oficiar. Onde ela estava era sempre uma liturgia. Como sacerdotiza dos templos destruídos, Natália oficiava. Ou então punha-se a ouvir as vozes e a decifrar os obscuros sinais do tempo. Havia nela algo do xanã, do adivinho e do profeta. Então oficiava. E a tribo reunia-se à sua volta, esperando que ela esconjurasse as forças maléficas ou convocasse as forças benfazejas. Por isso a sua poesia tem, como poucas, a marca da oralidade. É uma poesia para ser dita, cantada, partilhada. Há nela o pregão e a profecia, a convocação, a evocação. E frequentemente a provocação. (Manuel Alegre)