Joaquim já tinha ouvido falar dela, a jornalista que assinava aqueles artigos que o Francisco, o seu melhor amigo, não se cansava de elogiar e lia diariamente, com uma devoção quase religiosa.
Ao vê-la ali, sentada no meio dos colegas de Imprensa, de caderninho no joelho, a tomar notas do que dizia o ministro, sentiu o seu olhar distrair-se, demorar-se na imagem de Alice, discretamente bonita, cativante.
Também ela sentiu aquele olhar sobre si.
Incomodou-se. Nenhum dos dois sabia, ainda, das incontáveis afinidades electivas que, clandestinas, lançavam já laços invisíveis, insuspeitados, que só muito tenuemente se esboçaram na intimidade reservada que pautou, mais tarde, o seu primeiro encontro, num restaurante à beira-Tejo.
Viriam, com o tempo, a tomar forma mais corpórea.
Tumultuosamente, o passado ressurge diante deles, revelando os contornos e os matizes de um tempo incógnito, pleno de sonhos e de vãs esperanças, de paixões proscritas e de amizades incondicionais, de loucuras mais ou menos insanas, cujos efeitos se repercutem ainda no presente de suas vidas.
Uma história de amor, de entrega e de descoberta, escrita com a mesma intensidade narrativa e psicológica a que Tiago Rebelo já nos habituou no seu primeiro romance, Para Ti Uma Vida Nova.