Mariana, uma psicóloga de determinação férrea, mãe de duas gémeas atrevidas e curiosas, começa a frequentar o Solar de Turismo de Habitação que Guilherme dirige na Serra do Barroso para preencher os tempos livres das filhas. Estabelece rapidamente uma amizade com o proprietário e à medida que essa relação vai estreitando começam a surgir os temas que lançarão a psicóloga na sua investigação sem retorno: A Guerra Colonial em Moçambique, a formação dos Grupos Especiais e dos Grupos Especiais Pára-Quedistas, as suas incríveis missões-relâmpago de contra-guerrilha, o uso de estupefacientes fornecidos pelo próprio Exército Português, e outros segredos.
Não Podemos Ver O Vento é um puzzle em que as peças vão encaixando para revelar aspectos imprevistos dos abismos da alma humana e histórias verdadeiras de um dos segredos mais bem guardados da Guerra. A última peça do puzzle, no entanto, ao revelar o quadro na sua totalidade, também o modifica por completo: afinal havia mais um segredo, o mais impressionante de todos, e desse nem Guilherme falou nem Mariana suspeitou.
Excerto:
“Mariana sorriu. Depois estendeu a outra mão devagarinho, de maneira a não espantar a caça. Deixou o corpo onde estava. Deslizou os dedos sobre a superfície polida da mesa-de-cabeceira até encontrar o maço de SG Filtro. O isqueiro, dos pequenos, estava enfiado lá dentro. Fez todos os movimentos com a leveza de uma brisa de fim de tarde num fim de Agosto como aquele. Puxou a primeira passa com um sorriso feliz.
Guilherme detestava que ela fumasse no quarto, mesmo quando a janela estava toda aberta.
Sonhou com a Guerra.
Ou então, sonhou com a Prisão.
Mal ela sabia que não ia conseguir dormir toda a noite.”