O título deste livro é uma provocação. É bem sabido que temos uma certa tendência para nos sintonizarmos mais facilmente com o que já confirma os nossos juízos. O desafio que aqui fazemos ao leitor vai no sentido inverso: não acreditar em tudo o que pensa. Ou seja, estar disponível para pôr em causa o que eventualmente tenha como óbvio sobre as grandes questões políticas dos nossos dias. Uma das maiores dificuldades para compreendermos o que nos está a acontecer reside no simplismo das explicações que circulam sobre a origem dos nossos males e que impede, em grande medida, a sua superação. Expressões como «andámos a viver acima das nossas possibilidades», «a culpa é dos políticos», «temos de ser empreendedores», «é preciso fazer sacrifícios para pagar a dívida», entre tantas outras, instalaram-se no nosso quotidiano. São repetidas incessantemente nos mais variados lugares e a repetição cristaliza essas ideias como naturais. Os debates mais urgentes que temos pela frente são aqueles que tomam estas expressões como o objeto de discussão. Precisamente porque a força insidiosa destas ideias consiste em se insinuarem como autoevidentes.