Muitos foram os filósofos sociais que proclamaram a necessidade de suprimir do vocabulário palavras como «actor social», «movimento social» e sobretudo «sujeito» pois consideravam‑nas concepções da consciência e da acção política já ultrapassadas. Touraine contesta esta visão desesperante e até destruidora, pelo contrário ele acredita que as lutas feministas, como outras, trazem novas aspirações – e sobretudo uma nova representação que as mulheres têm de si e do seu lugar na vida social. Mas o autor pretende demonstrar em primeiro lugar que a impotência, a falsa consciência e a total dependência das mulheres são afinações totalmente desmentidas pelos próprios factos. Ao «nada se pode fazer» o autor responde que é preciso ir lá ver e sobretudo escutar as mulheres em vez de se falar em seu nome.
Tal como fez com outras temáticas, para conhecer o pensamento e a experiência vivida das mulheres, o autor «foi ao terreno». Touraine descobriu que aquilo que as mulheres fazem e pensam é diferente, oposto até, ao que nos é dito que elas fazem e dizem. As mulheres ouvidas, individualmente ou reunidas em grupos, definiram‑se, antes de tudo, como mulheres e não como vítimas, mesmo quando sofreram injustiças, e afirmaram que o seu objectivo principal era o de se construírem enquanto mulheres; a maior parte delas acrescentou que era no campo da sexualidade que esta construção poderia ser conseguida ou fracassar. Esta representação de si encontra‑se, num contexto mais complexo, nas mulheres muçulmanas às quais foi destinado um estudo particular.
Com esta obra Touraine espera demonstrar a necessidade de romper com a discussão do tipo «nada se pode fazer» e contribuir para levar a descobrir as mulheres enquanto actrizes sociais revelando os seus objectivos, os conflitos em que estão implicadas e a sua vontade de serem os sujeitos da sua própria existência.
Enfim, com esta obra Touraine traz‑nos perante um novo paradigma: O mundo das Mulheres.