«Eu era um rapaz de catorze anos e não sabia quem era…»
Com esta frase, que nos coloca em pleno mistério, inicia Camilo aquele que seria o seu segundo romance, editado em 1854 mas publicado originalmente em folhetins no diário portuense O Nacional. Influenciado pelo romance-folhetim em voga na época, Mistérios de Lisboa mergulha-nos num turbilhão imparável de aventuras e desventuras, coincidências e revelações, sentimentos e paixões violentos, vinganças, amores desgraçados e ilegítimos, de que o leitor não consegue libertar-se até à última página. Com uma galeria de personagens inesquecíveis, como o Padre Dinis, que de aristocrata e libertino se converte em justiceiro, assumindo diversas identidades, estes Mistérios de Lisboa ultrapassam, quer as fronteiras do género em que se inspiraram — como bem nota João Tordo no Prefácio a este edição —, quer as dessa Lisboa que a obra percorre, mas onde chegam ou de onde partem para França, Inglaterra, África, Brasil todos os piratas, ciganos, aristocratas, burgueses, mulheres de má nota, santas, assassinas, desgraçadas e venturosas personagens que por aqui se cruzam… Uma viagem pela alma humana e pelo século XIX, como pelos meandros de uma cidade.