«A minha vida.» Quando penso estas palavras, vejo diante de mim um rasto de luz. Observando melhor, a luz tem a forma de um cometa, com uma cabeça e uma cauda. A extremidade mais luminosa, a cabeça, é a infância e a idade do crescimento. O núcleo, a parte mais densa, é a primeira infância, quando são determinados os traços principais da nossa vida. Tento recordar-me, tento chegar lá. Mas é difícil movimentarmo-nos nessas regiões muito condensadas, é perigoso, tenho a sensação de que chegaria muito próximo da morte. Mais adiante, o cometa dilui-se: é a parte mais comprida, a cauda. Torna-se cada vez menos denso, mas também mais largo. Encontro-me agora num ponto muito avançado da cauda do cometa; tenho sessenta anos no momento em que escrevo estas linhas.
PRÉMIO NOBEL DE LITERATURA 2011
Traduções de Ana Diniz e Alexandre Pastor
Posfácio de Pedro Mexia
«Através de imagens condensadas, translúcidas, Tomas Tranströmer dá-nos um acesso renovado à realidade.»
Academia Sueca no anúncio do Prémio Nobel de Literatura de 2011
Críticas de imprensa
«A memória de Tranströmer é feita destes “rastos de luz”. O seu perfil desenha-se sob um brilho de relâmpagos: o menino fascinado por museus e bibliotecas, coleccionador de escaravelhos (sempre com um frasco de éter no bolso), o rapazinho antinazi fervoroso durante a guerra, o adolescente deprimido (“Fui aprisionado por um holofote que emitia escuridão”) mas capaz de se libertar dos seus fantasmas e descobrir, nas traduções de versos clássicos nas aulas de Latim (Catulo, Horácio), que “através da forma (da Forma!) era possível elevar uma coisa a um estádio superior”. Desde pequeno, Tranströmer vai aproximando-se quer da “experiência da beleza” quer do “grande mistério” do mundo natural.»
José Mário Silva, Expresso