Ditado ao seu fiel secretário Rudolf Hess em 1923, na prisão de Landsberg – onde cumpria uma pena de cinco anos depois do golpe falhado em Munique – "A Minha Luta" é, de certa forma, o manifesto do nacional-socialismo tal como Hitler o entendia. Apesar do seu estilo errático e por vezes alucinado, a obra contém a sua visão programática para a sociedade alemã – com alusões pouco veladas de eugenismo e uma ênfase obsessiva na questão racial, por exemplo, mas também sobre o papel da mulher alemã ou dos sindicatos –, para uma nova política externa (a referência constante à necessidade de espaço vital, mas também à política de alianças a levar a cabo) e, ainda, premonitoriamente, sobre os judeus.No fundo, 10 anos antes de chegar ao poder, o que viria a ser a política interna e externa do III Reich levada a cabo por Hitler já estava plasmada em livro. Embora algumas das suas ideias, em termos geopolíticos, reflictam os medos e anseios dos Alemães, fruto da sua posição geográfica no continente europeu – a eterna obsessão com as alianças que pudessem contrariar o «cerco», o aperto entre a França e a Rússia, agora pela mão do bolchevismo – noutros aspectos o texto é mais perturbador, em especial na questão do eugenismo, no futuro dos povos de Leste e, essencialmente, no destino a dar aos judeus… «"Mein Kampf" ("A Minha Luta") podia também chamar-se "Mein Kopf " ("A Minha Cabeça"). [...] Adolf Hitler escreve, no fundo, uma confissão, no sentido agostiniano de "profissão de fé". Ou seja, explica ao que vem e para onde vai. O problema [...] é que não foi tomado a sério.» Nuno Rogeiro in Indy/Independente