«O Matadouro» de Esteban Echeverría é uma obra pioneira na denúncia da violência da ditadura sobre os povos sul-americanos. É também, por este mesmo motivo, uma narrativa de fundação intelectual e social da Argentina quando a antiga colónia, depois das lutas contra o Império Espanhol pela independência (25 de Maio de 1810…; reconhecimento 09 de julho de 1816), e do caudilhismo de Juan Manuel Rosas (1829 a 1831/1835 a 1852), teve a necessidade de organizar se como uma Nação democrática. «O Matadouro» é também uma obra pioneira no campo da Literatura, sobretudo pelos Realismo e Naturalismo avant-la-lettre que exibe, ao levar às últimas consequências as vertentes costumbrista e nacionalista do Romantismo, introduzido anteriormente pelo próprio Echeverría na América Hispânica. Com efeito, nesta narrativa de estrutura singular, a relevância da cor local traduz-se na amostragem de episódios estúrdios associados ao abate do gado bovino para a alimentação, uma necessidade básica em torno da qual uma fauna humana, politicamente religiosa, se movimenta de modo grotesco, caótico e violento, com o beneplácito e a cumplicidade da autoridade responsável pela ordem e pela justiça, sob o olhar irónico do narrador. Maria da Penha Campos Fernandes in «Introdução»