«A passagem de Maria de Lourdes de Mattos Braamcamp pelo mundo foi breve: durou trinta e três anos. Abrangeu um casamento feliz, cinco filhos, muitas viagens e uma distinta carreira artística. O início da Primeira Guerra Mundial arrastou a família para Londres; Maria de Lourdes matriculou-se na prestigiada Slade School e mais tarde na St. John’s Wood. Em 1916, os Braamcamp regressam a Portugal, instalando-se na sua herdade alentejana de Castelo Ventoso, perto de Évora. Ali, a artista monta um atelier, onde vai pintando cenas de costumes populares. Recorre a técnicas variadas, mas será através de um conjunto de aguarelas, finalizadas a aparo e nanquim que se apresentará ao público, na Exposição da Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1920. Acabara de completar 21 anos e o sucesso que obtém é notável. Muito sensível aos materiais, tira sempre grande partido das técnicas que emprega. O aparo leva-a a explorar o vigor da linha; a grafite, a fluidez e o pormenor; o lápis de cor, o gesto expedito e o claro-escuro suave. Concede grande importância ao aproveitamento da cor e textura dos suportes. Com o pastel é a rapidez de execução que prevalece e com o carvão ou sépia, a pureza do contorno. O óleo, lançado com a espátula, permite que a artista se concentre nos ritmos e texturas. Com o pincel, demora-se na modelação de zonas de luz e sombra e no estudo da composição. Combinando a aguarela e o aparo, obtém um estilo preciso, mas leve. Marcada por um cunho experimental, a obra de Maria de Lourdes revela influências da Escola Inglesa, patentes no colorido sóbrio, desenho correto e claro-escuro delicado. Todavia, a sua obra, o seu casamento, a sua alegria, tudo ficaria por concluir. A morte levou-a precocemente, no Verão de 1933.»