Dizia-se que, algures no Oriente misterioso, no topo do mundo, como mandavam as convenções dos mapas da época, estaria o Paraíso na Terra. Dizia-se que, no Norte gelado, longe de tudo, se erguia uma enorme muralha de ferro. Dizia-se que existia, algures na Índia desconhecida, um Papa-Imperador cristão. Dizia-se que, na Mongólia longínqua, o Grande Khan estava prestes a converter-se ao cristianismo. E dizia-se que, quanto mais longe se fosse, mais estranhas seriam as raças humanas, animais e vegetais que o viajante ousado encontraria no caminho. E partiram, em demanda do que então se dizia, inúmeros espíritos inquietos que voltavam com histórias de lugares inimagináveis, de licornes, de serpentes, de pessoas com cabeça de cão, de árvores de onde nasciam pássaros, de formigas do tamanho de mastins e de lugares cheios de florestas densas e perigosas. E os leitores devoravam e aplaudiam toda esta estranheza. Assim se evidenciava inequivocamente o apetite intrínseco da nossa cultura por tudo o que seja sonho de viagem. As viagens imaginárias continuam a existir. Hoje, no geral, chamamos-lhes ficção científica. Enquanto esta área prolifera, outros autores, com Umberto Eco, viram-se para o passado e redescobrem ilhas com poderes mágicos, viagens a pé pelos confins do mundo, ou mesmo uma autêntica visita à corte do Preste João. A arca dos tesouros das grandes viagens imaginárias ainda está, pois, muito longe de esgotar o seu potencial riquíssimo, como podemos subentender ao ler este livro em tudo fascinante.