Depois de A Rainha de Copas (prémio Prosas de Estreia 1998) e Depois da Noite (2000), o terceiro romance de Luís Costa Pires, Mandrágora, é, segundo o autor, "um livro violento que luta contra todos os fanatismos. Sejam religiosos, sociais ou de outra ordem. É um livro que apela à liberdade de pensamento, de acção e de expressão, à individualidade, à capacidade de criar e seguir caminhos, à liberdade de inventar mundos, à sabedoria de conseguir olhar para os outros e percebê-los, sem julgamentos de valor". No entanto, é também "uma história de amor, em que duas pessoas se apaixonam em circunstâncias adversas, como acontece em todas as histórias de amor, e que lutam pelo seu desejo, independentemente das consequências futuras."
Mandrágora é nome de uma planta fabulosa, supostamente tendo virtudes fecundantes e afrodisíacas; Mandrágora é também nome de mulher, a protagonista deste romance que, vítima de abusos paternos, é raptada de casa ainda em tenra idade, prosseguindo depois um caminho complicado e cheio de desafios, até encontrar o caminho de regresso a casa e, ironicamente, à sua própria redenção, nas mãos e na filosofia de um jovem padre de nome Rafael.
É um livro passado no norte do País, numa aldeia antiga e retrógrada, num ambiente cheio de misticismo e de erotismo, de violência psicológica, onde a tensão está sempre presente, quer seja no difícil percurso de vida da personagem principal, quer nos conflitos interiores de Rafael, no mistério por trás do vilão Mateus ou na desgraça que se abateu sobre o sacristão, que se viu privado, de um dia para o outro, da sua capacidade de falar e de ouvir.
Segundo o escritor Fernando Campos, autor do texto da contracapa do livro, Luís Costa Pires é "o eco da sociedade que o rodeia, dos anseios, problemas, dores e alegrias, diferenças e injustiças. Logo se vê nos temas que escolhe. Nem sempre para agradar ou divertir o leitor, mas para o tomar consciente das realidades e, se possível, participante na caminhada para um mundo melhor. Ao riso sucedem quantas vezes as lágrimas e não será de estranhar que, pelo meio, se evole um pouco de mistério e sonho, de solicitações da carne - sempre metafisicamente angustiantes, tanto mais se... tanto mais se existir voto que as pretenda jugular. Mandrágora é a planta fabulosa, de virtudes fecundantes e afrodisíacas. Um bom título para um romance que repõe o velho tema, sempre actualíssimo, dos embates e debates, crises de escrúpulos e de consciências, do celibato católico."