René Tapia escolheu elucidar um paradoxo. A temática das drogas sofre ainda hoje em dia das retóricas militar e religiosa que aí se cruzam e se imbricam. No centro destes discursos, uma aparência de doutrina preconiza «um mundo sem drogas». A este postulado René Tapia prefere uma descrição documentada da natureza perene do consumo de plantas de drogas. E se faz disso uma espécie de condição prévia, fá-lo por realismo. Como compreender os mecanismos do mercado sem uma investigação preliminar das virtudes de cada substância, das propriedades que lhe são atribuídas e que podem, pelo menos em parte, explicar a procura de tal produto? Existe frequentemente o mau hábito de invocar factos ao acaso sem referência aos saberes anteriormente consolidados e, mais frequentemente ainda, sem a menor escala de comparação. Não é com certeza um dos méritos menores do presente livro de René Tapia o de tentar reconstituir essas bases, indispensáveis se quisermos ligar entre si os saberes, num domínio como o das drogas em que eles são tão diversos como complexos. E esta é também uma condição essencial para a «desintoxicação» ideológica do tema, sem a qual este estará condenado a permanecer como uma espécie de sortilégio, tão caro como vão.