A carta enviada a 17 de Dezembro de 2003 a Álvaro Cunhal estendia-se por três páginas. Nelas, estava o pedido para uma entrevista e uma sugestão de trabalho que permitisse efectuar uma longa viagem pela sua vida pessoal, politica e intelectual, a ser publicada por ocasião dos trinta anos da Revolução do 25 de Abril de 1974.A espera por uma resposta virou o ano e continuou por mais alguns meses. Nesse espaço de tempo, as novidades sobre o seu estado de saúde confirmavam que a espera iria ser longa ou até mesmo ultrapassada por um final várias vezes anunciado. Apesar de a resposta não chegar, o trabalho jornalístico tinha data marcada e havia que encontrar outra abordagem. Diferente, porque o protagonista Cunhal tem sido «fotografado» por vários ângulos ao longo das muitas décadas da sua vida. E o roteiro para essa longa viagem com Álvaro Cunhal recaiu sobre um dos lados menos conhecidos, o da criação literária, sob o pseudónimo Manuel Tiago. No bloco em que as anotações iam ser feitas, escreveu-se na primeira folha «Em busca de Álvaro Cunhal na prosa de Manuel Tiago», como orientação cardial para o artigo. O encontro com os personagens que tornam real a ficção de Manuel Tiago sugeria que o título final fosse «Os homens da bicicleta» mas, ao fim de vários meses de investigação, só sobrava Uma Longa Viagem com Álvaro Cunhal.