As longas filas de espera à porta dos postos de atendimento do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, as noites passadas ao relento, ao frio e à chuva para não perder a vez, foram ultimamente descobertas por alguma imprensa.
Daí resultaram artigos de informação e denúncia que constituíram verdadeira pedrada no charco de uma opinião pública acomodada.
Mas, por baixo desse afloramento superficial, está o drama de dezenas de milhares de pessoas que constroem as cidades para os outros e depois têm de ficar de fora, porque nasceram longe, porque falam línguas estrangeiras, porque têm uma pele de cor diferente.
Por baixo dessa desumanidade – que alguns apressadamente atribuíram à burocracia -, está o desespero dos milhares que entregam as poupanças de uma vida aos traficantes de mão-de-obr, dos que partem e não voltam a ver a família, dos que adoecem longe e não podem tratar-se, dos que trabalham e não são pagos, dos que reclamam o salário e são expulsos, numa mal esclarecida coincidência de actuações entre o patronato e a polícia.