«Que sentido e/ou sentidos
encontrar para essa retomada
da guerrilha quando a ideia
de nação em Angola parece tão
consolidada? Luandino não formula
respostas, antes recoloca
questões que legitimam esse
mergulho na memória.
Após focalizar a geografia,
em seu sentido mais amplo, ele
fixa o olhar nos guerrilheiros,
para, a partir de suas vozes,
captar a guerrilha como uma
vivência em movimento, como
realidade de um presente que
ainda não poderia conhecer
os erros, os acertos, a euforia
e a frustração... A orientar
o gesto está a crença na
possibilidade de recuperar
o capital simbólico acumulado
no processo, numa linha diversa
daquela que marcou uma parte
considerável da produção literária
que veio à luz sob o clima
eufórico da segunda metade dos
anos 70. E também da que vem na
ressaca que sucedeu à renúncia
do projecto revolucionário.
Nessa mescla de testemunho
e ficção, Luandino, com sua
inquietante radicalidade, leva-nos
por uma viagem marcada pelo
risco, arrastando-nos para
um turbilhão de imagens
e sentidos que impossibilita
qualquer hipótese de sossego
diante do texto. Assim como
diante da extraordinária
realidade que a escrita tão
concisa consegue representar.»
Rita Chaves, Universidade de São Paulo