E Aossê [Fernando Pessoa]. Sempre atravessando Lisboa, neste dia em que não nos é permitido encontrarmo-nos, pois eu permaneço aqui. Subo para ir buscar os seus passeios no Livro do Desassossego, e encontro-me subitamente a três no patamar. Bach toca órgão no exterior, no lugar em que a Praça de Herbais é mais monótona. Toca para mim, e para ele, com um relâmpago de amizade nas veias. Não sabe nada destes portugueses, que pedem deuses num país estrangeiro. Não sabe que somos portugueses, somos irmãos por quem teme. «Um dos meus passeios predilectos», diz Aossê, «nas manhãs em que temo a banalidade do dia que vai seguir como quem teme a cadeia…»