Depois da novela A Lenda do Santo Bebedor, em que Roth conta a história milagrosa de um vagabundo polaco a viver no gelado desabrigo das pontes do Sena, apresenta-se aqui mais uma história, desta vez de um judeu singular, do comerciante de corais nissen Piczenik.
Escrita em 1934, no exílio francês, e publicada postumamente em 1940 pelo editor holandês de origem portuguesa Emanuel Querido, a novela descreve a vida simples e honesta de Piczenik na pequena cidade de Progrody, perdida e isolada no limite extremo do Império Austro-Húngaro.
Não obstante a convivência quotidiana com os corais – a sua verdadeira razão de ser - , Nissen Piczenik ansiava pelas profundezas do mar, onde – compensava – cresciam os corais, guardados pelo incomensurável e poderoso Leviatã .
O aparecimento súbito do « diabo Jeno Lakatos», que introduz corais falsos na região, representa uma reviravolta na pacata vida de Piczenik.
Após ter cedido às tentações do Diabo, Nissen Piczenik cai na desgraça.
O recurso sistemático ao estilo do conto maravilhoso constitui, por parte de Joseph Roth, uma tentativa de dar vida, embora de uma forma utópica, ao microcosmo de sua terra natal, a Galícia, que então se encontrava em desmoronamento irreversível.
Esta e outras histórias de Roth são, por um lado, uma homenagem à velha monarquia austríaca, que, na sua opinião, era a pátria de todos, e, por outro, a toda uma região – agora desaparecida-, em que, segundo Paul Celan, viviam pessoas e livros.