«”Levantar o céu” é o nome que os mestres de Chi Kung (uma variante do Tai Chi) dão a um dos seus principais exercícios. Consiste, fisicamente, em levantar os braços em arco com as palmas das mãos apontadas uma para a outra e viradas para cima, isto é, para o “céu”. Pouco importa a execução do exercício. Tomo-o como metáfora de uma atitude de vida que dá a primazia ao Céu, no sentido que a palavra tem, por um lado, na cultura chinesa, e, por outro, na nossa. Na cultura chinesa, Céu (Yang) designa aquilo que vem do alto […], que anima a realidade espiritual da existência. Opõe-se à Terra (Yin), isto é, àquilo que vem de baixo […], que representa a realidade material da existência. O movimento das mãos e dos braços, que se elevam como se conduzissem a Terra ao encontro do Céu, constitui uma espécie de representação do papel que o homem pode e deve desempenhar na união do Céu e da Terra. […] Dominamos a matéria, manipulamos as leis físicas, acumulamos o poder e o dinheiro, aperfeiçoamos a racionalidade, e, todavia, o caminho que escolhemos parece conduzir diretamente ao caos. […] Não será preciso, então, preservar as realidades espirituais para nelas encontrar a inspiração necessária ao exercício prático, efetivo, da solidariedade e da responsabilidade? Não será preciso fazer aquilo que não dá dinheiro nem poder e que muitos homens e mulheres praticam sem esperar qualquer lucro, mas o Estado ignora e a cultura dominante despreza, isto é, “levantar o Céu”? Os textos aqui reunidos foram escritos ao sabor de solicitações variadas […] Uns são mais “cívicos”, outros mais espirituais; uns inspirados no senso comum, outros na mensagem evangélica; uns recorrem à História, outros a princípios intemporais. Qualquer que seja a linguagem e o pensamento que os inspira, pretendem todos contribuir em alguma coisa para “levantar o Céu”.»