MENÇÃO DE HONRA PRÉMIO LITERÁRIO JOÃO GASPAR SIMÕES
Qual a origem do local onde nasceste? De onde provéns?
Na vasta Gândara que inscreveu Carlos de Oliveira nos anais da literatura portuguesa, numa região essencialmente rural, o conhecimento da vida dos nossos pais e avós - homens que trabalharam a terra de calças arregaçadas, em mangas de camisa, que enterraram os pés gretados no lastro de lama, homens sem tempo nem biografia, dos quais provimos - é essencial para o estabelecimento da ponte entre o passado, cujos vestígios vão cada vez mais rareando, e o presente, tão próximo e turbulento, que vivemos no nosso quotidiano. O tempo corre, a vida foge ao ritmo alucinante do matraquear do relógio e, por isso, não podemos esquecer o busto de vida erguido a nosso lado, transfigurado na imagem de um avô sentado na cadeira ao canto da sala, a sua voz tremida, as suas mãos enrugadas, as alfaias que usava no trabalho, a casa, o pátio e o quintal, à sua volta, que nos remetem para um passado próximo e distante, para as raízes no chão onde caminhamos, e onde inexoravelmente um dia teremos que regressar. É por isso que se incita o leitor a abrir o livro e a virar a página, e a seguinte, e outra, e outras, sucessivamente, para que palpemos meigamente a plenitude do dia-a-dia desta gente, remetendo-nos ao seu valeroso passado através de um romance transformado em vozes, com o pendor religioso católico deste povo plasmado na alvorada da oração da manhã até às preces da noite na entrega da alma a Deus. Por isto, também, os padres da paróquia, figuras centrais neste microcosmos espacial, servem para extremar as parcelas de terreno escritas ao longo da narrativa...