Há dois mistérios fundamentais na vida de Juan Carlos: um pessoal, outro político. Como explicar a aparente serenidade com que Juan Carlos aceitou que o pai, por assim dizer, o entregasse atado de pés e mãos ao regime franquista? Numa família normal, um acto destes teria sido considerado uma espécie de crueldade ou, no mínimo, uma irresponsabilidade. Mas uma família real não é "normal", e a decisão de enviar Juan Carlos para Espanha respondia a uma lógica dinástica "superior". Apesar disso, a tensão entre as necessidades humanas e as dinásticas repercute no fundo da distância que separa Juanito de Bourbon, a criança alegre, e o príncipe Juan Carlos, de olhar perpetuamente triste. O segundo mistério assenta no facto de compreender como um príncipe oriundo de tradições autoritárias, forçado a agira no quadro das "normas" franquistas e educado para ser a pedra angular de um complexo plano que visava a continuidade da ditadura se comprometeu deliberadamente com a instauração e defesa da democracia