Fábio era um adolescente de Mem Martins. Se perguntassem aos vizinhos, eles diriam que era bom moço, pacato, não se metia em confusões. Mas o Fábio, esse Fábio da linha de Sintra já não existe. Agora só responde pelo nome de Abdurahman, tem 22 anos que parecem muito mais. E as mãos, antes tão talentosas para o desenho, trocaram os lápis pelas armas. E não as ostenta apenas para se exibir no Facebook. Ele aperta mesmo o gatilho, dispara balas reais. E mata pessoas.
Fábio é um dos vinte portugueses que algures na Síria e no Iraque combatem pelo Estado Islâmico até à morte. Alguns têm estudos, andaram em engenharia, vêm de famílias funcionais. Mas um dia largaram a bola ou o hip-hop e começaram a radicalizar-se.
Os jornalistas Hugo Franco e Raquel Moleiro descobriram-nos quase todos. Durante quase um ano andaram como eles, à procura. A falar com os amigos, conhecidos, secretas. Os Jiadistas Portugueses é a história deles, e dos seus amigos e das suas famílias – que não compreendem como foram amputados de um filho ou irmão para os reencontrar meses mais tarde, no facebook ou nas páginas dos jornais. Já não o Fábio, o Celso ou a Ângela; mas antes Abdurahman, Abu Issa e Umm. A pregar a guerra santa. De armas em punho e o ódio no olhar.