Neste livro, a cada um dos 18 temas do álbum de música eletrónica Um Argentino no Deserto, de René Bertholo, corresponde um conto. Os contos começam quando o pintor começa, em 1935, e seguem uma cronologia que se aproxima e afasta da vida dele, das pessoas em torno dele, das obras que criou, das obras que o marcaram, e dos momentos coletivos que a sua história individual intercetou. Os contos acabam quando o pintor acaba, e a música para de tocar, mas o legado do que nos deixou, perdura. Perdura também a memória do seu brincar, nas narrativas dos amigos próximos com quem a autora conversou. É isso, arte e amizade, o que continuará a dar origem a outras coisas. Este livro é uma dessas outras coisas.
“Um Argentino no Deserto é o tipo de música com que Russolo e os outros futuristas sonharam, nos seus manifestos, mas que nunca realizaram/concretizaram verdadeiramente.”
Brian Lavelle, Vital Weekly
Em 1982, quando René retorna a Portugal, está Joana bastante atarefada com o ofício de vir ao mundo. Joana investe num percurso em tudo similar ao de René: a António Arroio, depois as Belas-Artes, e viagens, inúmeras. São no entanto incomparáveis, os contextos que levam um e outro a partir.
Em 2005, quando René parte, está Joana na Bélgica a servir imperiais num dos maiores festivais na Europa. É a primeira vez que ganha tanto dinheiro, mas tem 23 anos e vai gastar tudo a viajar. Quando os quilómetros se acumulam, e o dinheiro se esgota, improvisa um quartinho em Berlim, manda vir neve, e escreve o seu primeiro romance: Diálogos para o Fim do Mundo. Segue-se Havia, e O Lago Avesso. Retorna a Lisboa, onde passa a viajar entre colinas - o mais possível, na sua bicicleta.