A questão fundamental é: porquê o ser e não antes o nada? É a mais originária e a mais profunda das questões. E também: qual é o fundamento do ser? Qual a existência desse fundamento? A resposta aquela interrogação não deve realçar o ente particular. «Imaginemos a Terra na imensidão escura do espaço no cosmos. O ente é, apenas aí, um grão de areia, um minúsculo grão de areia separado de outro por um vazio. Na superfície desse minúsculo grão de areia vive um rebanho de animais atordoados, rastejando uns por entre os outros, pretensamente inteligentes e que, por um instante, inventaram o conhecimento» (...) «E o que é a duração de uma vida humana no curso temporal de milhões de anos? Pouco mais do que uma pulsação do ponteiro de segundos, um sopro de respiração.» No entanto, a colocação do ser nessa questão é essencial, é o que lhe dá razão de existir; e, no entanto, a questão não altera nada no ente. A questão do porquê do ser não é um mero jogo de palavras, faz-se através de um salto, pelo qual o homem salta para fora da protecção da sua existência. Por outro lado, esse questionar não se restringe a uma existência histórico-humana, é um interrogar originário. Porquê o ser, e não antes o nada? Qual o sentido do perguntar? E mesmo que o sentido não tenha sentido nenhum, porquê o ser e não antes o nada? Que o homem só parece sê-lo quando nele se interroga.