"A publicação destes catorze ensaios agora cerzidos num único volume, retocados aqui e ali no estilo e na substância, não tem outra pretensão, insisto, do que tornar mais acessíveis textos até agora dispersos e, quem sabe, fazer acordar no leitor as mesmas inquietações que os inspiraram.
Não há, bem sei, um fio condutor a uni-los, nem se arrumam segundo um programa temático. Falam da vida, da morte, da velhice, do sofrimento, da dignidade, da compaixão, do interesse, dos mistérios do cérebro, do dever e da renúncia, enfim, desta “umana cosa” que é ser médico, e sobre os sentimentos sentidos e observados neste ofício e o que fui buscar ao meu “conhecimento das vidas”, como dizia Fernando Gil, cuja esplendorosa sabedoria foi uma dádiva inesperada na minha idade madura. Aqui está contido, pois, um pouco daquilo que fui aprendendo, sobretudo com aqueles de quem cuidei e cuja alma se ofereceu tantas vezes, tão frágil, tão inocente, tão nua."
João Lobo Antunes