Tendo escolhido a Filosofia como área da sua formação académica e do seu pensamento, João Maurício Brás oferece-nos neste seu segundo livro um ensaio original que se nos impõe pela inteligência e argúcia com que analisa e disseca o tema da desconfiança e as suas múltiplas implicações no comportamento humano e pelo bom uso que dele podemos e devemos fazer na nossa vida prática diária. Para tanto será necessário distinguir, entre outras coisas, duas vias na desconfiança filosófica. A boa desconfiança, que supera e progride na reiteração de um exercício de liberdade, insubmissão e clarividência, e a má desconfiança, incapaz de superar a sua própria condição, que se toma como o seu próprio fim e se compraz nesse movimento. A má desconfiança manifesta-se na má fé, na má consciência na má vontade, no niilismo e no pessimismo. A boa desconfiança é uma atitude, conceito e teoria, e tem na desfascinação, na lucidez e no desengano consequências possíveis. É o instrumento de uma filosofia possível como filosofia prática que nos permite pensar a vida na totalidade das suas manifestações e completar uma inteligibilidade redutora que é vigente e triunfante, mas unilateral e totalitária.