«E, então, começou a ir para a rua com o corvo. Saía de manhã, dava um grande passeio pela cidade, detinha-se a olhar o rio, a ponte, a barca em sobressalto dos pensamentos. Pelo meio-dia, sem pressas, encaminhava- se para o Rossio, assobiando, às vezes calado e taciturno: pássaro na gaiola à justa, viajando na mão esquerda em bandeja ou, quando os músculos se extenuavam, pendendo do indicador-gancho, ossudo, com unha sujíssima e coriácia. Conhecia bem o lugar fresco junto ao chafariz. Limpava o chão, abria, espalmava o jornal retirado do bolso traseiro das calças; sentava, depois, os fundilhos na almofada assim improvisada, afagava os caracóis da barba, o cabelo mesclado de branco, o rebordo da orelha.»