Embora não tendo existido na Idade Média o conceito de vida privada tal como hoje o entendemos, esta época histórica conheceu passos significativos na afirmação do indivíduo e da sua esfera de acção pessoal.
Na distinção entre os espaços públicos e os privados, na identificação de cada pessoa, na sua inserção familiar, nas celebrações festivas religiosas ou profanas, nos registos da memória de vivos e de mortos, na própria alimentação, em todos os campos se detectam indícios de uma lenta mas progressiva emergência do privado.
Também nas representações da criança e da mulher, dos «marginais», da sexualidade, da saúde e da doença, bem como nas relações com o Além e com o sagrado, foi ganhando relevo o indivíduo como membro das comunidades em que se inseria e como pessoa singular.
É desse processo que trata este primeiro volume, sublinhando a dicotomia estruturante na mundividência da Cristandade medieva sobre a separação entre o corpo e a alma.