Enquanto viajava pela Europa e Estados Unidos, promovendo o seu livro Sonhos Proibidos: Memórias de um Harém de Fez ( já publicado pela ASA nesta mesma colecção ), Fatema Mernissi ficou perplexa ao constatar que, para a maioria dos homens ocidentais, a simples menção da palavra Harém provoca as mais voluptuosas fantasias sexuais, nas quais o homem consegue dominar mulheres vulneráveis cujo único objectivo é satisfazer-lhe os desejos.
A realidade das culturas islâmicas é diametralmente diferente: o Harém é visto como palco de arrojadas disputas pelo poder sexual.
A mítica Xerazade, que contou histórias dignas de preencher Mil e Uma Noites, é disso um bom exemplo: Através de uma sedução mais cerebral do que física, Xerazade usou a sua retórica apaixonada para maravilhar e dominar um sultão.
As suas histórias eram a tal ponto subversivas que foram publicadas em árabe apenas um século depois da sua publicação em Francês, e continuam até hoje a ser um dos alvos da censura muçulmana.
A Xerazade Oriental é puramente cerebral.
Nos contos originais, são raras as referências ao corpo de Xerazade, ao passo que a sua sabedoria é relatada até à exaustão.
A investigação de Mernissi denuncia uma sucessão de equívocos e mal-entendidos, e a misogenia, tanto Ocidental como Oriental, que limita a imaginação humana e dificulta a comunicação entre culturas.
Ao convidar-nos a reconsiderar os aspectos mais enraizados da nossa cultura, o Harém e o Ocidente oferece-nos uma nova perspectiva sobre os temas e as ideias da cultura ocidental.