Elzbieta Ettinger foi até agora uma das raras pessoas que teve acesso à correspondência privada de Heidegger que, por vontade do próprio autor de "Ser e Tempo", só será acessível ao público dentro de várias décadas. É por isso que, sem poder reproduzi-la directamente, Ettinger conseguiu comprovar até que ponto Hannah Arendt e Martin Heidegger foram próximos, apesar das diferenças que entre eles sempre existiram. Publicada em 1995 nos E.U.A., esta obra sobre o relacionamento amoroso entre dois dos mais importantes filósofos do século XX, ela judia e ele simpatizante nazi, é um testemunho sobre a complexidade da alma humana. Hannah Arendt encontrou-se pela primeira vez com Martin Heidegger em 1924 na universidade alemã de Marburgo. Arendt é uma judia alemã então com dezoito anos que se torna aluna de Heidegger, trinta e cinco anos, casado e com filhos, e que está a escrever a sua principal obra. Depressa se tornam amantes, mantendo encontros clandestinos ao longo de quatro anos. Depois separam-se e mantêm-se afastados durante vinte anos. É durante esse longo período que Heidegger adere ao nazismo e Arendt emigra para os E.U.A., onde escreve obras como "A Condição Humana", "Entre o Passado e o Futuro" e "As Origens do Totalitarismo". Reatam com prudência o relacionamento em 1950 e, apesar das suas divergências e diferentes intenções, mantêm-se amigos até à morte de Hannah Arendt em 1975, a que se seguiria meses depois a de Martin Heidegger.