As memórias “Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu” (por Manuel Luís Lomba, Terras de Faria, Lda., 2012) são uma peça singularíssima na literatura da guerra colonial, como foi lembrado no texto anterior. Toda a recordação da vida operacional da CCAV 703 aparece entremeada pelo enquadramento histórico e político, é um longo olhar do combatente como se pretendesse fazer o arco entre a chegada de Nuno Tristão até à independência da Guiné-Bissau, quase mesmo ao presente. Manuel Lomba, vê-se à légua, fez leituras e nos seus regressos à Guiné-Bissau fez muitas perguntas para encontrar uma elucidação dos acontecimentos. Quem pretende tocar em muitos assuntos, inevitavelmente corre riscos de ser contraditado. Não para atiçar a curiosidade do leitor que referi que há aqui pasto para controvérsia, o importante é ler tudo do princípio ao fim e não ficar condicionado pelas notas da recensão.
Depois, o autor abalança-se a escrever sobre a formação do estado da Guiné-Bissau, dá especial ênfase aos acontecimentos de 1973 e 1974 e detalha alguns aspetos relevantes do que se passou durante a fase de transição do poder. Podemos tomar este testemunho como o de alguém que viveu em pleno a série de operações que conduziram ao desbaratamento dos grupos do PAIGC implantados perto de Cufar e que igualmente aproveita para dar a sua própria interpretação sobre os acontecimentos da luta armada e da descolonização.
É uma obra sem precedentes, em que se matiza uma leitura histórica a pretexto da vivência de um conjunto de operações, neste caso na região Sul, em condições muito ásperas.