Tomando como ponto de partida a obra Presenças Reais (1989), de George Steiner, este ensaio visa estudar as relações entre a hermenêutica da trans-cendência, protagonizada por Steiner, e aquilo a que John Caputo designa por “hermenêutica radical”, promovida pelo pensamento de Martin Heidegger e de Jacques Derrida. Steiner, confrontado com o inumano do século XX, cuja marca indelével foi a experiência de barbárie que atingiu o seu paroxismo na apoteose do horror de Auschwitz, parece abraçar o mais radical dos gestos hermenêuticos, na medida em que se decide lançar numa aposta da transcendência, em que o sentido do sentido repousa, tranquilamente, nos braços de Deus, rejeitando-se, assim, a semiótica negativa derridiana. Todavia, olhada sob o prisma exigente da hermenêutica radical avançada por Caputo, a herme-nêutica steineriana acaba por revelar-se cúmplice de uma metafísica da presença e de um pensamento filosófico que trava o jogo livre da diferença.