Primeiro romance de Jean Meckert, Golpes (1942), elogiado por André Gide, é a história do amor (e do desamor) que une o taciturno Félix e a palavrosa Paulette. Nas suas páginas incisivas e lúcidas, Meckert expõe sem piedade o mecanismo da incompreensão mútua, a violência conjugal e a insatisfação do casal. Se Paulette – cuja moral é «a das cartas das leitoras das revistas femininas, toda essa confusão turva que cheira à purulência das mudanças de estação» – crê ascender socialmente cultivando gostos e valores tidos por refinados, ele, ao invés disso, é visceralmente avesso à hipocrisia, às convenções e ao conformismo, que o condenam a um insípido matrimónio. Um romance que Meckert elege como campo de batalha das palavras, onde a sua arma – a expressão nua e crua – derrota os exércitos de lugares-comuns que nos cercam.