“O Império Romano representa uma notável unificação da pluralidade e realizou a coesão do diverso” — escreve Jorge de Alarcão, acrescentando: “A um nível macro-político, macro-social ou macro-económico, podemos falar de globalização; mas, a um nível micro-social, mantiveram-se diferenças e especificidades que não conduziram, todavia, a disfuncionamentos ou tensões”.
Estas palavras evocam a visão de Borges de Macedo quando definiu o espírito europeu como unidade sem imposição da uniformidade (Portugal-Europa para além da circunstância, Lisboa, 1988, p.15).
Ao mesmo tempo, tais palavras condensam as ideias gerais oferecidas ao leitor que percorrer o presente volume, onde são abordadas questões diversas, mas complementares e capazes de dar uma visão geral da civilização romana e dos valores matriciais da ideia de Europa que nela germinaram: a variedade e os matizes do conceito de Europa na poesia latina; a perduração de modelos comportamentais e pedagógicos na educação europeia; a utilização de critérios de civilização na percepção do outro e do exótico; a visão dos socialmente desprotegidos como indivíduos e seres humanos; a tolerância religiosa tipicamente romana em relação aos cultos locais ou até à presença do judaísmo em Roma, sem prejuízo dos clichés utilizados na sua caracterização; a apetência do cristianismo para se impor como religião dominante nalgumas zonas do Império Romano; a construção de um espaço económico gizado por vias de comunicação que ligavam o mundo romano na sua dimensão europeia; as lutas pelo poder do imperador Constantino, que colocou toda a sua acção, por vezes contraditória e brutal, ao serviço da perenidade do Império; a sólida construção de um edifício jurídico que ainda ilumina as sendas do direito europeu; a crítica sistemática da cidade pagã, pela boca de Agostinho, para, através dessa dialéctica, fundamentar um novo humanismo; enfim, uma abordagem do mundo romano enquanto paradigma da União Europeia, que igualmente se espera capaz de, na sua construção, exaltar os valores da cultura, na sua unidade e pluralidade.