Numa madrugada de 1947, Edgardo Limentani, proprietário judeu de Ferrara, acorda cedo para uma caçada. Dentro do barril, enquanto olha patos e galeirões sem conseguir disparar, é tomado por uma estranha lucidez: vê-se a si próprio desprendido do mundo, fora do curso da vida, sem afetos, sem apreço por ideias ou ideologias, morto por dentro. Uma garça em voo baixo, muito próxima, arranca-o ao seu langor. Limentani observa-a - a sua grácil morfologia -, agora desperto, o coração pulsando contra o peito. Dois tiros são disparados e a ave é atingida. A perplexidade da garça, primeiro, e a lenta agonia que se segue vão ligar-se à perceção que Limentani tem de si próprio e vão lançá-lo num longo desespero. A Garça é uma novela delicada e pungente que, centrada na angústia de uma crise pessoal, retrata uma sociedade cuja ordem se aproxima do fim.