Um morto da guerra descansa numa caneca de leite, a meio da noite, em Luanda. Está um passageiro transformado em serpente no lavabo do avião. Um elevador, no Recife, foi desviado para Cuba por alturas do quarto andar. 0 sonho, o delírio, a vergonha, a fé, a pele, a memória, o feitiço, o nome -o ódio e a entrega - são territórios de exílio, e nessa condição, lugares de morança. Misturam-se com uma fluidez voraz: são «Fronteiras Perdidas», linhas de vida de outra maneira, um catálogo de paisagens oníricas. Histórias que não são visíveis mas são visitáveis. Este livro é um caminho para elas e encerra pequenas sabedorias. Por exemplo, a maior: não existem sítios, apenas posições. «Não há mais lugar de origem», diz um dos percursos. Ou então: um hotel em que alguém afirma que dormiu e que está abandonado há anos. E Placido Domingo contempla o rio, em Corumbá.
Pedro Rosa Mendes