Este estudo pretende demostrar, analisar e desenvolver as determinações do conceito de «forma» no período compreendido, grosso modo, entre os anos setenta do séc. XIX e os anos vinte do séc. XX, dedicando uma atenção particular ao período de transição entre os dois séculos.
A premissa fundamental da nossa investigação é dada pelas diversas conceptualizações da forma ao longo da história da estética. Esta mutabilidade nas determinações do conceito é verificável a partir da mera consideração da sua centralidade no interior das problemáticas estéticas, já desde a teoria platónica das ideias, passando pela sua caraterização em outros pensadores da Antiguidade, do neoplatonismo aos latinos, e também em filósofos e artistas do Renascimento e da Idade Moderna. A nossa atenção volta-se para um período no qual percebemos uma novidade na referencialidade da forma, que adquire as determinações da materialidade, da presencialidade e da espácio-temporalidade, após uma longa vivência ligada ao ideal, ao imaterial e ao absoluto.
Neste período, é o nascimento da história da arte moderna que, na viva discussão acerca do seu objeto e valor, e nos seus esforços para se definir enquanto ciência autónoma, impõe à forma o significado de uma aparência sensível, a partir de uma visão da arte que implica a relação cognitiva entre a forma artística e a sua audiência. Ao mesmo tempo, o impulso de independência desta nova disciplina provocou uma renovação na estética e na teoria da arte. Estas renovações e deslocamentos são constantemente reativados, nos dias de hoje, pelas novidades nos domínios da técnica e da tecnologia, bem como pelo novo paradigma antropológico e cultural que é o «pós-humano». As origens da relação entre a forma, a aparência, a matéria e a presença deixam perceber alguns aspetos fundamentais da deriva atual em direção a uma alienação do sentir e às contaminações entre corpo e «coisa».