Em 1850, o estado das estradas portuguesas não podia ser pior. A única via decente era a que ligava a capital a Coimbra. De Lisboa, era mais fácil chegar-se a Southampton do que a Bragança. Fontes Pereira de Melo acreditava que a circulação – das coisas, dos homens, das ideias – era positiva. Foram os governos a que presidiu, ou em que teve assento, que, entre 1856 e 1886, planearam e construíram 82,5% dos 2153 quilómetros de vias férreas existentes.
O louvor à modernidade é bom para a retórica, mas os homens sentem-se melhor vivendo e produzindo como os pais e os avós o fizeram. Por isso, não se admirou que contra o projecto ferroviário se tivessem levantado os almocreves, temerosos das locomotivas, os senhores rurais, que receavam pedidos de aumentos salariais, os camponeses, irritados com os forasteiros, os credores do Estado, indignados com a política financeira, os párocos, que olhavam os funcionários dos caminhos de ferro como uns hereges, e os políticos da oposição, que proclamavam que um país pobre não pode esbanjar dinheiro. A 7 de Maio de 1853, diante da augusta presença de D. Maria II e de D. Fernando, Fontes inaugurava as obras. Se conseguisse iniciar a linha entre Lisboa e o Carregado, pensou, o resto viria por acréscimo. O resto era, nada mais nada menos, do que a união do país à Europa. A ele, sobretudo a ele, o devemos.