Em setembro de 1974, Lourenço Marques testemunhou um crime sem perdão que originou incontáveis mortos, na esmagadora maioria negros - graças à loucura e irresponsabilidade de um punhado de brancos que, sentindo o seu mundo de privilégios a ruir, se lançou numa aventura sem sentido, arrastando emocionalmente milhares de compatriotas que, desinformados e impreparados politicamente, naquele contexto eram presa fácil de qualquer patrioteirismo rasteiro.
O resultado foi, num primeiro momento, uma euforia balofa, difundindo via rádio desejos e boatos como realidades – com os seus membros mais exaltados entregando-se, ao som do Rádio Clube de Moçambique assaltado, a uma autêntica orgia de sangue negro nas ruelas sem esgoto do caniço.
Ao terceiro dia, o medo que se havia apoderado da população negra, que ouvia a rádio apelando à intervenção sul-africana e rodesiana, transformou-se em levantamento geral sob a forma de uma marcha de catanas sobre a cidade branca.