Pois é. O parto...Por mais que se inventem partos sem dor, epidurais, anestésicos de várias etiologias, são muito poucas as mulheres que não dizem ser aquelas as piores dores do mundo.
E quantas terão deixado, por isso, de repetir a façanha? Eu não conheço nenhuma...
É que as dores do parto cessam no momento exacto em que o nosso filho nasce.
Quando aquela coisinha, de preferência a berrar, se encosta à nossa pele, ali mesmo por cima do nosso coração, o efeito é semelhante ao de um grande traumatismo craniano: amnésia total.
Ou, melhor: específica e parcail.
Porque diz apenas respeito a todas as dores que nos dilaceraram a carne enquanto ele nasceu.
Então, o nosso coração incendeia-se, aquece até esturricar e emana dele uma nuvem cor-de-rosa morna, muito doce como o algodão das feiras e carrosséis, perfumada como um muro coberto de glicínias em flor no mês de Maio.
É então que nós, mulheres, queremos continuar a ter filhos.
Este é o primeiro livro de ficção de Manuela de Sousa Rama.