Liberto Cruz estreia-se na ficção com Felicidade na Austrália. São catorze passagens de uma vivência em S. Pedro de Penafrim, onde o autor nasceu e viveu. Histórias de um tempo outro em que a «felicidade», agora descrita, se esvai numa estranha lonjura como se em um outro continente ela se tivesse desenrolado. Todavia, a presença constante desse habitado pequeno mundo, simultaneamente tão natural, tão buliçoso e tão pachorrento, perdurava na memória de quem o sentiu e observou e exigia-lhe um testemunho que, ao longo dos anos, se foi tornando quase obsessivo. Não é a pequena história desta povoação que se pretende evocar nem, tão-pouco, se deseja transmitir com rigor essa época situada entre os anos 40 e 75 do século passado. O que o autor procurou, com humor e malícia, num tom por vezes brejeiro, foi recordar esse tempo português, veladamente permissivo, que procurava, a todo custo, evitar o escândalo público.