Mayer Guinzburg deixou em criança a Rússia, em 1916, e rumou com a família, numa atribulada viagem de navio, para o Brasil. Como tantos outros judeus, a família Guinzburg procurava noutro país uma nova vida, longe de perseguições e dos terríveis pogroms de que eram permanentemente alvo. Mas ao contrário dos restantes familiares e dos amigos, Mayer criou para si uma existência muito própria; cada vez mais distante dos outros, à medida que vai crescendo, pleno de ideais revolucionários, encerra-se num mundo irreal e obsessivo, e torna-se no Capitão Birobidjan, personagem quixotesca, possuidora de sonhos mágicos, de um louco humanismo, pregador incansável de uma sociedade melhor, ser solitário espalhando incessantemente as suas utopias, vivendo-as com uma imensa esperança perante a crua indiferença que o rodeia, e líder de uma comunidade igualmente utópica, a Nova Birobidjan. A narrativa ágil e precisa de Scliar, estruturada em saltos no tempo (ora estamos em 1970, ora em 1944, 46, 16, 35 29...), envolve-nos numa atmosfera fantástica, e o seu humor tão refinado quanto amargo nesta ficção espreita-nos e surpreende-nos a cada palavra, a cada linha, enredando-nos numa teia de que não apetece sair.