Nesta colectânea, que reúne dezoito contos, escolhidos de entre seis dos livros do autor, para além da sua intrínseca qualidade antológica, surpreende-nos a insólita e original novidade de um escritor que não se prende a um único estilo na sua escrita literária, em que a experimentação linguística se singulariza de forma imprevista e onde a cada passo a desordem de um dizer «desviado» surge afeito a uma nova e estranha sintaxe «feita de (des)acordos e acordes mágicos entre os signos da sua significação». Experimentando em cada livro uma nova forma literária que melhor enquadre a realidade numa teia por vezes desconcertante de mito e história, tradição e invenção — sempre passível de exigir algum trabalho de decifração dos instrumentos linguísticos com que opera —, diz do autor Eugénio Lisboa, a dado passo do prefácio, estarmos perante «um narrador de grande linhagem», considerado, na escrita narrativa de ficção, o iniciador da corrente literária que começou por enformar uma das principais características do que é hoje a «a literatura de Moçambique» (a experimentação e a criação linguística).