Quando a Lei da Separação do Estado das Igrejas foi promulgada em Portugal, a 20 de Abril de 1911, a República, proclamada a 5 de Outubro de 1910, levava seis meses de efervescente existência. O que restava da família real, dizimada pelo regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, estava disperso pelo exílio; jesuítas e religiosos estrangeiros tinham sido expulsos logo nos primeiros dias da República; algumas poucas figuras da corte, da política e da vida eclesiástica tinham-se exilado também. A maior parte ficara, e na sua maioria «aderira» à República: o cansaço era grande e pouca gente estivera disposta a bater-se por um trono de sete séculos que caíra quase sem resistência.
Em O Estado e a Igreja em Portugal no início do século XX, João Seabra proporciona uma análise profunda e completa da Lei da Separação evidenciando «que os verdadeiros precursores da separação entre a Igreja e o Estado não foram Afonso Costa e o movimento republicano – foram o episcopado e o clero de Portugal, pela posição que assumiram de independência e não-sujeição da vida da Igreja à ingerência do Estado».
Nesta obra, adaptada da sua tese de doutoramento em Direito Canónico apresentada na Pontifícia Universidade Urbaniana, o autor escreve um texto acessível ao grande público, no qual também estão presentes a erudição e os pormenores sobre a época e as personagens, num contributo essencial e oportuníssimo para o debate sobre a liberdade religiosa e, indirectamente, sobre a questão religiosa da Primeira República.