Se a vida de Mariana se pudesse expressar através da voz de um poeta, essa voz seria a de José Régio em «O Cântico Negro». Cada verso reflecte com nitidez e exactidão a forma como sente a sua inalienável condição humana. «A minha vida é um vendaval que se soltou» podiam ser palavras da protagonista deste romance intenso e desassombrado. Mariana tem os olhos povoados de estrelas, olhos que anseiam e amam «o longe e a miragem (…) os abismos, as torrentes, os desertos…» que se espraiam pela imensidão da alma e que são permanentemente habitados por uma solidão dormente e insana. Ama David com o desespero e a urgência dos condenados, um amor atormentado, abissal e feroz que se consome em guerras constantes que os ferem e fragilizam, no círculo de fogo de um desejo que não se sacia. Mariana jamais conseguirá resistir ao apelo longínquo, hedonista, que a incita a «explorar florestas virgens». Como poderia explicar as vagas alterosas que ameaçam submergi-la numa tempestade de pensamentos, desejos e medos imponderáveis? Que a obrigam a permanecer um mistério para si mesma?
Aos trinta e oito anos, esta mulher vive a vida ao seu ritmo, ciente da efemeridade dos sentimentos, eternamente fascinada pelo lado errado da noite, dos outros, dela própria. Está Uma Noite Quente de Verão é uma obra que reflecte, com uma simplicidade cativante, sobre o sentido da vida e do amor.