Portugal e Espanha, países vizinhos, partilhando embora boa parte da sua história, têm vivido com distanciamento cultural e espiritual: “tan cerca y tan lejos”, sintetiza o paradoxo. No flanco ocidental da Península, onde Portugal se constituiu num pequeno e único Estado-Nação, espraiado no Atlântico e longe de outras fronteiras europeias, levantaram-se receios face a um enorme Estado plurinacional. Portugal soube criar a sua personalidade própria e sustentar uma independência raramente maculada. Manteve-se como Estado-Nação através do relacionamento que efectivou com outros povos, gerindo, deste modo, os seus interesses e tirando, assim, partido da sua posição estratégica. No entanto, a partir do século XIX, alguns paralelismos nos acontecimentos - embora às vezes assíncronos - e nos processos de natureza política são de realçar na História dos dois países peninsulares: as invasões napoleónicas, as revoluções liberais, o Miguelísmo e o Carlismo, a crise de consciência originada pelas questões ultramarinas. Em Portugal, o Ultimatum de 1890, em Espanha, a perda de Cuba e das Filipinas, em 1898. As interrogações da geração portuguesa de 70 têm traços comuns com as da geração espanhola de 98. A República antecipou-se em Portugal e Sidónio Pais surge antes de Primo de Rivera, bem como o Estado Novo antes do Franquismo. O 25 de Abril de 1974 antecede o cambio que se segue à morte de Franco. Contudo, no século XX, a História peninsular foi marcada pela coexistência, durante várias décadas, de regimes políticos que, não obstante as suas afinidades, mantiveram e até cultivaram um afastamento pronunciado. Os estudos que agora se reúnem, centrados no séc.XX, visam contribuir para esclarecer alguns aspectos ainda não tratados ou insuficientemente abordados sobre a rica problemática da complexa relação entre Espanha e Portugal.