Escutando o rumor da vida, como o próprio título o diz, é uma tentativa de visão global do mundo em que vivemos, mas inteiramente diferente das obras convencionais realistas e naturalistas. Bem pelo contrário aqui reinam a excentricidade, a loucura, o humor e até o absurdo tornado real, desde a conversão do belo tenebroso Olímpio, no herói da generosidade e do amor, à excentricidade erótica de Teresa Cordovil, aos presságios da criança que antevê o futuro, à múltipla natureza do jovem cineasta Francisco de Medeiros, que é um dos pilares da acção. Esta variedade de criaturas excêntricas e até contraditórias desagua no absurdo de um acto justiceiro, que põe em causa muita da tessitura moral e lógica da obra. Já na novela Solidões em Brasa pode parecer mais natural a inquietação de Vítor Córdova, que procura no amor e no sexo, na viagem e nos seus pequenos delírios um sentido para a vida, que afinal não encontra, bem como Maria Lucília Rodrigues, pintora que acaba por se suicidar, desesperando de achar a harmonia, a verdade que perseguiu.