Maria é uma mulher irresistível, de temperamento forte e imprevisível. Daniel prefere ficar na sombra dela, aceitando o conforto de um papel secundário. Juntos vão testar os limites de um amor exagerado, deslumbrante e violento.
Às duas da tarde em ponto entrou na casa, a da cozinha redonda, dos cheiros futuros. Mas foi para o quarto, que se obrigou a arrastar. Abriu a porta em dois movimentos, que descobriram Maria, sentada no chão, junto a um enorme guarda-roupa. Estava ferida, com marcas de arranhões e sangue seco na testa. Ela confessou-lhe:
- Não foi fácil. Eles acordaram antes.
- O que fizeste?
Maria não respondeu. Preferia deixá-lo semiconsciente do resto. Dos golpes, da dor, dos cúmplices, de tudo. Do casal fechado dentro do móvel antigo, amarrado, espancado, arrependido.
- Eles estão... ?
- Estão bem. Um bocadinho zangados, para ser mais real – pareceu-lhe envergonhar-se Maria.