«Ao princípio da madrugada de um dia quente daquele mês de Julho, um rapazinho subia, em passada enérgica, a encosta íngreme de um morro da Serra da Kilewa, perto da cidade do Lobito, em Angola. Chamava-se João Botelho e tinha 10 anos, nesse ano de 1948. Seguindo uma trilha paralela à picada utilizada pelos veículos que saíam da cidade em direcção a outros pontos a norte e a sul do território, parava frequentemente para olhar para trás, escutando se algum ruído, diferente do que ouvia da mata densa que o rodeava, denunciava a aproximação de qualquer veículo ou de alguém no seu encalço. Perto do alto da picada, parou mais uma vez para retomar o fôlego. Naquele ponto já alto da montanha, desde que iniciara a subida, sentou-se no rebordo de uma rocha que sobressaía da parede de terra vermelha na encosta íngreme. A seus pés estendia-se, até ao mar que a banhava, a cidade do Lobito, pobremente iluminada àquela hora. Vista assim, de longe, parecia maior do que era.»